“Nem sempre a cura começa com acolhimento doce. Às vezes, ela começa com a verdade que confronta.”

Costumamos associar o início da cura a gestos suaves, palavras de consolo e um acolhimento caloroso. E, de fato, há momentos em que esse é o caminho necessário — como um bálsamo que acalma uma ferida exposta. Mas há outras situações em que o verdadeiro ponto de virada ocorre quando somos confrontados com algo que não queremos ver.

A verdade, quando chega, nem sempre se apresenta com delicadeza. Às vezes, ela corta. Tira o véu da ilusão, sacode as estruturas, desestabiliza aquilo que havíamos construído sobre bases frágeis. E, nesse confronto, podemos sentir raiva, medo, ou até desejo de fugir. Mas é justamente ali que muitas curas profundas têm início.

A cura real — aquela que transforma, que reorienta a vida, que nos reconcilia com a nossa essência — nem sempre se parece com o que imaginamos. Ela pode começar por uma pergunta que incomoda, por um espelho que revela o que tentávamos esconder, ou por um olhar firme que nos convida à responsabilidade.

No trabalho terapêutico, esse momento é precioso. É quando deixamos de buscar alívio imediato e começamos a buscar sentido. Quando aceitamos ver aquilo que evitamos por tanto tempo e, com isso, abrimos espaço para a restauração autêntica — que não é superficial, mas regeneradora.

A verdade, quando é vivida com amor, ainda que em tom firme, é cura. Ela não destrói, ela revela. E é nesse revelar que podemos, finalmente, nos libertar.

 

 

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